Falta de políticas de proteção a saúde do trabalhador é grave problema em Formosa

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Em geral, quando o trabalhador recorre ao médico para o tratamento de alguma doença normalmente o problema reflete a falta de políticas públicas de proteção a saúde do funcionário no ambiente de trabalho. Um problema gravíssimo que vem sendo constatado no serviço público de todo o país.

Não se sabe ao certo quantos trabalhadores tem sua saúde afetada pelo próprio trabalho - da rede privada e pública - mas a falta de proteção leva a uma situação além da questão referente a de acidentes no trabalho, mas esgotamento, depressão, baixa-estima e dezenas de outros problemas acarretados seja pelo assédio moral, pela rotina pesada de serviços, ou, até mesmo, pela falta de apoio e pressão ligada a responsabilidade de sua tarefa.

Imagine trabalhar em várias escolas e salas de aula lotadas por anos. Ou então cuidar da alimentação de centenas de alunos sem o material necessário. E o que dizer de exercer sua função na lavanderia do hospital, ou mesmo na cozinha do estabelecimento de saúde. Se expor a radiação dos equipamentos de Raio-X. Ter que se dirigir para a zona rural para dar manutenção em máquinas pesadas. Correr em uma ambulância com destreza para, no fim, ver um cenário nada agradável de acidente. Ficar na traseira de um caminhão de lixo para recolher toneladas de material cortante, infectado, desconhecido. Ou mesmo varrer uma rua a noite, sem ser visto pelos motoristas. Caminhar por quilômetros para marcar consultas ou fazer acompanhamentos. Até mesmo passar horas no computador ou realizando pesquisas.

Estes e dezenas de outros exemplos e situações piores ou aparentemente melhores são os cenários encontrados no serviço público municipal que gera problemas de saúde silenciosos que se agravam com o tempo e geram prejuízos ao trabalhador de uma forma catastrófica. E não se trata de corpo mole ou de "se não está gostando procura algo melhor". Se trata do fato de não haver nenhum programa de proteção ao trabalhador.

Ora, de que adianta mudar de trabalho, se o problema que acarreta danos a saúde segue afetando os outros que vierem a trabalhar naquele setor? Ao invés de tapar o Sol com a peneira, seria necessário que nossos gestores arregaçassem as mangas, ou simplesmente acompanhassem os trabalhadores durante alguns dias de serviço para enxergar quais são os problemas que afetam milhares todos os dias.

Não há um número exato de funcionários que esteja de atestado pois são dados que normalmente não fazem parte do balanço de serviços públicos. Mas é inegável e preocupante o crescente número de funcionários doentes nos últimos anos.

Em 2014, estima-se que, por mês, em média, cerca de 3% dos quase três mil servidores públicos tivessem procurado o médico. Atualmente, a cifra deve chegar a 5 ou a 6%, segundo estimativas e levantamento do sindicato. O que significa que, em média, de 150 a 180 pessoas do serviço público municipal são afetadas todos os meses por algum problema de saúde - desde os mais brandos aos mais complexos.

Pelo menos metade tem algum problema de saúde correlacionado ao trabalho. "Passamos a maior parte de nossas vidas trabalhando ou fazendo algo relacionado ao trabalho. Pra piorar, se fizermos uma análise rápida com os colegas do serviço, 9 em cada 10 pessoas lembra de sua própria saúde como prioridade após citar pelo menos outras três coisas. Sem dizer que, para alguns, basta receber uma insalubridade que está tudo bem, se ele passa por risco de acidente ou pode morrer trabalhando, isso não é levado em conta" alerta um dirigente do sindicato.

Pra piorar, muitos trabalhadores evitam comentar sobre questões voltadas a doença e riscos que passa em seu trabalho. Os que fazem isso são normalmente assediados moralmente ou desencorajados de mostrar os problemas de seus ambientes de trabalho para os órgãos de defesa ao trabalhador. Sem dizer nos que trabalham doentes para não permitir que sua carga de serviços seja repartida entre os outros funcionários.

"Em Formosa não há sequer o básico da proteção a saúde do trabalhador que é a montagem de uma equipe de apoio para substituir temporariamente os funcionários que cuidam de sua saúde. Sempre é dito que não há funcionários suficientes para nenhum setor, o que só contribui para piorar o quadro de quem efetivamente está trabalhando" denuncia outro dirigente.

Situações como pagar outro colega para exercer sua função enquanto trata de sua saúde. Ou cobrança por parte da chefia para que ele tenha que trabalhar mesmo doente, também não ficam de fora e atenuam o problema. E, segundo alguns dirigentes sindicais, a situação não para por aí: "Muitos colegas assumem os problemas da administração pública e, para não prejudicar o funcionamento do setor, fazem de tudo para não deixar os outros na mão, mesmo passando por pressão, humilhação dos colegas e até mesmo serem obrigados a seguir deixando de cuidar de sua saúde", disse Alex.

O sindicato prevê que, se não for feito nenhum trabalho em relação às questões voltadas para a saúde do trabalhador no ambiente de serviço, a tendência é de piora. Em cinco anos, em até 10% e em dez, até 17% dos funcionários poderão estar sempre tendo uma passagem no médico mês após mês,

Ressalva-se que os dados estatísticos levantados pelo sindicato não são oficiais. Existe uma grande chance de a porcentagem atual ser muito maior do que os 5 a 6% já mencionados anteriormente. Principalmente quando há demora no atendimento a direitos como o da licença prêmio e as férias que reduzem a incidência do estresse e pressão no trabalho.

Ainda há também a falta de números em relação aos trabalhadores reincidentes. Ou seja, aqueles que vão mais de uma vez ao mês no médico para se consultar de problemas referentes a alguma doença causada pelo serviço. "Quando fizemos uma palestra com as ASHA no Auditório da Prefeitura em 2012, notamos que a quantidade de funcionárias com algum problema de articulação era muito comum e que muitas não tinham recursos para se tratar de maneira adequada denotando o descaso gerado pela Administração em relação a elas" disse Alex.

O sindicato alerta que não há nenhum levantamento referente aos acidentes de trabalho apesar de ser comum o surgimento de um caso ou outro no serviço público municipal. Em geral, problemas causados por chefes de equipes que não se esforçam para corrigir as falhas, ou não possuem apoio de seu departamento, ou que alega não haver recursos para evitá-los e, ainda, que induz os seus subordinados a enxergar a situação como normal e aceitável.

Infelizmente, a questão referente a segurança do trabalho só adquire importância nos momentos de crise e, mesmo quando isso ocorre, o tempo é capaz de fazer com que todos esqueçam os fatos.

Neste sentido, o sindicato volta a reafirmar que é necessária a promoção de debates acerca da segurança no local de trabalho de todos os funcionários públicos municipais. Os principais riscos, os maiores problemas e, além de detectar as falhas, promover encaminhamentos para que sejam atendidos da forma mais correta e séria possível.

Compra de Equipamento de Proteção Individual (EPI), treinamento para seu uso correto, uniformes apropriados, palestras sobre os riscos que cada funcionário passa ao exercer sua função, e muitas outras atividades que evitam acidentes.

Em relação às doenças, mapear as mais frequentes e realizar treinamentos e tarefas que diminuam a sua incidência ou colaborem para seu tratamento. Combate ao assédio moral sobre o trabalhador doente. Palestras informativas. Pausas recreativas que permitam maior produtividade ao funcionário. Treinamentos entre outras questões correlatas.

"Não há nenhuma preocupação com o funcionário. Somos sempre cobrados e lembrados de nossos deveres. Se faz mal a nossa saúde, ou se afeta nossas vidas, isso pouco importa. O que interessa é se vamos estar trabalhando. Só isso" disse uma professora.

"Não temos EPI suficiente. Ninguém se propõe a nos proteger. E quando comentamos sobre os riscos, logo vem alguém dizer que estamos com medo ou somos frouxos" disse um trabalhador da área da limpeza pública.

"É sempre difícil cuidar da cozinha e da limpeza de uma escola. Não é de hoje que tem algumas colegas que não conseguem levantar um balde de água ou mexer as panelas de lugar por conta de fraqueza, tontura ou mal estar. E às vezes isso acontece e ninguém nem se importa" afirmou uma ASHA.

"Trabalho em um lugar muito complicado, porque qualquer um pode me passar doença e não tenho material para me proteger ou não posso demonstrar essa preocupação" falou um funcionário da área da saúde.

Devemos sempre refletir sobre a relação trabalhador x trabalho de modo que o trabalhador deve ter consciência de que sempre será mais importante que o trabalho e para que o serviço seja bem executado da forma mais produtiva possível, é necessário que o funcionário esteja saudável, pois sem ele não há trabalho.

O sindicato já fez sua parte cobrando sobre a importância de se destacar as questões referentes a saúde e a segurança no ambiente de trabalho. Porém, normalmente a questão é ignorada até mesmo por alguns trabalhadores. Assim, a entidade já estuda uma forma de apresentar o problema de maneira mais efetiva e informativa para que o problema seja definitivamente tratado de maneira apropriada.

Matéria publicada em 24 de outubro de 2016 pelo SINPREFOR
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